Não se pode negar que dirigir um veículo, seja manual ou automático, é uma tarefa mecânica. Depois de executar diversas vezes as mesmas ações, nos habituamos e deixamos de pensar nelas, o que é o exato oposto do que acontece quando estamos aprendendo a conduzir.
Nesse momento, toda a nossa atenção é voltada a cada detalhe do ato de dirigir, e é comum que a insegurança se instale. Afinal, embora não pareça, guiar um veículo é uma atividade complexa.
É nesse ponto que se manifesta a Psicologia do Trânsito, uma subárea da psicologia cuja importância para a segurança no trânsito e aplicação ainda são pouco esclarecidas, e surgem explicações para diferentes comportamentos adotados nesse espaço.
Neste artigo, abordarei a Psicologia do Trânsito, apresentando gráficos informativos que tornarão a sua experiência de leitura mais descontraída.
Aqui, você conhecerá o objetivo desta área, como ela acontece no Brasil, como ela auxilia na prevenção dos acidentes de trânsito e como se dá a atuação dos profissionais desse ramo.
Ainda, falarei sobre os principais perfis de condutores no trânsito.
Boa leitura!
O Que é a Psicologia do Trânsito?
Você já ouviu falar em tripé do trânsito?
De modo geral, ele consiste em um sistema constituído por três elementos: o ser humano/condutor, a via/ambiente e o veículo, que, invariavelmente, se inter-relacionam no contexto do trânsito.
Como em todo sistema, nem sempre o resultado dessa interação é positivo.
Se tratando do trânsito, então, a propensão a causar efeitos indesejados é ainda maior.
Isso se deve, em grande parte, às diferentes personalidades que integram esse espaço. Mas também há uma série de outros fatores que influenciam direta ou indiretamente o comportamento do condutor.
Parece confuso, não é?
Em outras palavras, essa é a Psicologia do Trânsito, área que dá conta de investigar os processos psicossociais, psicofísicos e psicológicos dos indivíduos inseridos no trânsito.
Falando mais diretamente, a Psicologia do Trânsito busca conhecer os integrantes do trânsito de forma científica e especializada.
Se você ainda não se aprofundou no assunto, saiba que esse conhecimento pode ajudá-lo a entender muitas questões relacionadas ao trânsito, que – diga-se de passagem – é um espaço predominantemente conturbado.
A seguir, falarei mais sobre quando surgiu a Psicologia do Trânsito e que tipo de contribuição ela traz. Siga a leitura!
Psicologia do Trânsito: Quando Surgiu e Qual a Sua Contribuição
No Brasil, a Psicologia do Trânsito é uma área independente e ainda muito recente, quando comparada a outros campos da Psicologia.
O surgimento dessa área se deu como consequência à constatação de que o tráfego, isto é, a circulação de pessoas e de veículos, impacta a sociedade e também o meio ambiente.
Os acidentes, tão frequentes no nosso cotidiano, são exemplos do quanto ainda existem falhas no tripé do trânsito, sendo o fator humano ainda o principal desafio a ser enfrentado para a segurança no trânsito.
Uma pesquisa realizada pelo Ministério dos Transportes, Portos e Aviação, em 2018, apontou que os acidentes nas estradas federais são causados, na maioria das vezes, por imprudência dos motoristas e falta de atenção.
De acordo com o estudo, no período de 2007 a 2016, mais de 23 mil mortes nas estradas foram causadas pelo desrespeito às regras de trânsito.
A falta de atenção, por sua vez, resultou em 276 mil feridos e mais de 15 mil mortos no mesmo período.
O índice de acidentes no país é uma preocupação social constante, e não é de hoje que se trabalha para a redução desses números.
Ainda assim, as estatísticas são assustadoras, sobretudo quando comparadas aos índices de outros países, o que revela que a nossa cultura de segurança no trânsito deixa muito a desejar.
Sem contar que os números divulgados não reproduzem fielmente a quantidade de vítimas fatais do trânsito brasileiro, visto que são contabilizados apenas os óbitos constatados no momento do acidente.
Ou seja, não sabemos de fato quantas mortes ocorrem após o acidente.
Para evitar essa realidade não surpreendente, mas vergonhosa e dolorosa, é necessário que os três elementos que compõem o tripé estejam em harmonia e funcionem satisfatoriamente.
Quando um deles está em desequilíbrio, aumentam consideravelmente os riscos de acidentes e mortes durante o tráfego.
Isso explica o fato de o índice de acidentes no Brasil ser tão alto. Aqui, podemos dizer que nenhum dos três elementos atua exatamente como deveria.
Com isso, fica evidente a necessidade da Psicologia do Trânsito e seus conhecimentos técnico-científicos para, por meio do estudo do comportamento humano no contexto do trânsito, prevenir os acidentes e efeitos negativos do meio.
O comportamento inseguro e imprudente de motoristas e de pedestres tem maior probabilidade de bagunçar o sistema do tráfego de veículos do que as condições ambientais ou as condições do automóvel.
É justamente por esse motivo que a Psicologia do Trânsito se encarrega de produzir conhecimentos que possam ser aplicados especificamente ao trânsito.
Para isso, os profissionais da área atuam observando e registrando os comportamentos mais recorrentes dos usuários do trânsito.
Também, aplicando questionários e fazendo entrevistas pertinentes, reunindo relatórios técnicos e trabalhando com experimentos de campo e de laboratório, na busca por estabelecer relações de causa e efeito.
Aliás, a relação de causa e efeito é um tópico bastante interessante no que diz respeito à Psicologia do Trânsito.
Você já pensou sobre o que faz com que muitas pessoas sintam medo de dirigir?
Na seção seguinte, abordarei o assunto.
Diferença Entre o Medo de Dirigir e a Fobia de Dirigir
Para muitos motoristas, o medo de dirigir é um problema real que ou faz com que a pessoa busque justificativas para o fato de nunca encarar o trânsito, ou desenvolva uma fobia de dirigir.
Em alguns casos, o temor é tão intenso que acaba por desencadear sintomas de ansiedade, afetando a saúde psicológica.
A amaxofobia, conhecida popularmente como medo de dirigir, é uma psicopatologia que, segundo a Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (ABRAMET), atinge cerca de dois milhões de brasileiros.
Provavelmente você já ouviu falar a respeito da fobia no trânsito, mas você sabia que ter fobia não é o mesmo que ter medo?
É importante que, além de saber identificar as diferenças entre esses sentimentos, os motoristas saibam que esse é um problema que pode ser solucionado com acompanhamento psicológico.
A fobia nada mais é do que um medo irracional e persistente de uma determinada situação ou objeto. Logicamente, para a pessoa que lida com esse transtorno, o medo não se manifesta de forma irracional.
Porém, a fobia se diferencia, embora de maneira quase imperceptível, do medo. Basicamente, a diferença entre um e outro se dá no grau de intensidade do estado emocional.
Enquanto o medo se caracteriza por um estado de alerta frente a uma situação, a fobia traz mais do que uma ansiedade natural, sendo um receio desproporcional, que acaba interferindo seriamente na vida do indivíduo fóbico.
O medo é um estado emocional transitório. A fobia impede o condutor de sequer chegar perto de conduzir o veículo.
Quando isso acontece, isto é, quando o medo passa a ter longa duração e a desencadear sintomas muito intensos, é porque se tornou patológico.
Esse transtorno emocional, no entanto, pode ocorrer em diferentes graus.
O indivíduo pode ter fobia de dirigir em estradas, de entrar com o veículo em um túnel, trafegar sobre uma ponte, atropelar um pedestre, perder o controle do veículo, ou até mesmo de ser passageiro.
São inúmeras as situações envolvendo o trânsito que podem desencadear os sintomas da amaxofobia.
Entre os sintomas, estão vertigem, enjoo, aceleração do ritmo cardíaco, tensão muscular, tremores, ressecamento labial, suor excessivo etc.
As causas, os sintomas e o tratamento adequado para cada caso específico, no entanto, devem ser avaliados por um profissional psicólogo, visto que cada fobia tem suas próprias características.
Na seção seguinte, você saberá qual o principal campo de atuação de um psicólogo do trânsito e de que maneira ele atua.
Psicólogo do Trânsito: O Que Faz Esse Profissional?
É comum que o psicólogo do trânsito seja lembrado unicamente como o profissional responsável pela aplicação de testes psicotécnicos nos Centros de Formação de Condutores (CFCs), uma das etapas pelas quais o candidato deve passar a fim de obter a Carteira Nacional de Habilitação (CNH).
De fato, os exames e testes psicotécnicos do DETRAN (Departamento Estadual de Trânsito) devem ser realizados e analisados exclusivamente por profissionais especialistas em Psicologia do Trânsito, tal como determina a Resolução n° 283, de 2008, do CONTRAN (Conselho Nacional de Trânsito).
Ainda, em outros processos de seleção de candidatos também são aptos à aplicação dos testes apenas profissionais com formação em Psicologia.
Afinal, esse profissional avalia, por meio de métodos científicos, as condições do candidato para desempenhar determinadas atividades, fazendo uma análise do perfil psicológico do indivíduo e antevendo seu comportamento no trânsito ou em outros meios.
De modo geral, o resultado dos testes psicotécnicos revela traços da personalidade do candidato.
O psicólogo verifica, portanto, se o indivíduo tem propensão a desvios de conduta, se tem algum transtorno de personalidade, enfim, alguma condição psicológica que possa comprometer o comportamento adequado no espaço em que pretende se inserir.
É avaliada a sua capacidade de tomar decisões frente a situações inusitadas e/ou negativas.
Enfim, a avaliação psicológica busca obter informações acerca do psiquismo do indivíduo, seu equilíbrio emocional, habilidades psicomotoras etc.
No entanto, embora seja importante, essa não é a única atividade desempenhada por especialistas em Psicologia do Trânsito.
A relevância e o campo de atuação do psicólogo do trânsito vão além dos Centros de Formação de Condutores espalhados pelo Brasil.
A Psicologia do Trânsito se revela extremamente importante também para a construção e definição da engenharia de tráfego, um ramo da área de transportes, cuja preocupação é planejar a circulação de veículos e de pessoas, de forma segura, sustentável, fluente e socialmente inclusiva.
O psicólogo do trânsito pode atuar em prefeituras, desenvolvendo estudos que promovam a cultura de segurança no trânsito.
Em ONGs (Organizações Não Governamentais), podem contribuir para projetos sociais que tratem de levar à sociedade a importância do bom comportamento no trânsito.
Outro campo de atuação possível para psicólogos do trânsito é a consultoria particular específica.
E, para analisar o fator humano no trânsito, esses profissionais traçaram os perfis possíveis dos motoristas.
Você sabe como os condutores são classificados? Veja na próxima seção deste artigo.
Psicologia do Trânsito: Entenda e Conheça os Diferentes Perfis de Motoristas
Como você viu, a Psicologia do Trânsito é uma área de estudos que se encarrega, principalmente, da tarefa de compreender os diferentes comportamentos adotados pelos motoristas no contexto do trânsito.
Analisar o fator humano compreende observar condutas que são possíveis de serem adotadas no trânsito, bem como os comportamentos recorrentes neste espaço.
E esse estudo tem um propósito bem definido: identificar os fatores responsáveis pelo desencadeamento de determinadas ações.
Para Vygotsky, o ambiente influencia nosso comportamento. Do mesmo modo, nós, seres humanos, modificamos diariamente o meio em que vivemos, influenciando o comportamento de outras pessoas por meio da interação
Seguindo ou não esse raciocínio, uma coisa é certa: nossas ações provocam reações o tempo todo.
Há diversos estímulos (fatores) que geram respostas (reações) no trânsito, os quais podem torná-lo um espaço mais ou menos seguro.
Agir impulsivamente ao volante, por exemplo, é uma ação que invariavelmente traz riscos negativos para nós mesmos e também para outras pessoas.
Por outro lado, optar por uma condução defensiva diminui substancialmente as chances de envolvimento em um acidente de trânsito.
Dirigir de maneira defensiva é, sem dúvida, a forma mais segura de se comportar. No entanto, não podemos ignorar a existência de diferentes perfis de motoristas
Pensar nessa questão também é uma tarefa da Psicologia do Trânsito.
Nenhum estudo serve apenas para revelar como as pessoas se comportam no trânsito, mas também para entender por que agem de determinadas maneiras, o que permite aos estudiosos prever comportamentos.
A partir disso, passa a ser possível trabalhar para tentar impedir as condutas individuais ou coletivas indesejáveis, tanto de motoristas quanto de pedestres.
Carlos Drummond de Andrade, em seu poema Igual-Desigual, diz que “Ninguém é igual a ninguém. Todo o ser humano é um estranho ímpar”. Mas é certo que as pessoas têm perfis comportamentais.
O perfil comportamental se refere a maneira como as pessoas normalmente se portam diante das situações, incluindo também as emoções que os estímulos recebidos despertam.
Embora não exista um perfil melhor que o outro – pois cada um é um – a Psicologia leva em consideração o fato de que cada perfil responde de diferentes formas a diferentes estímulos.
Além disso, há diversos fatores que moldam nosso perfil comportamental, tais como a idade, nossas experiências afetivas, relação com os pais, com a religião etc.
E todos eles são analisados em conjunto para encaixar uma pessoa em um ou em outro perfil.
1. Motorista agressivo
Este, pode-se dizer, é o perfil de condutor mais perigoso. Afinal, a agressividade é um comportamento que, na maioria das vezes, gera ações violentas.
Normalmente, o motorista agressivo tende a sentir que tem poder sobre as outras pessoas quando está ao volante.
Isso aumenta a probabilidade de um pequeno problema com outro condutor gerar uma grande discussão.
2. Motorista impulsivo
Eis mais um perfil de condutor bastante preocupante, que não se distancia muito do perfil agressivo.
Os condutores impulsivos não costumam refletir sobre as condutas adotadas no trânsito, o que significa que não preveem os riscos e as consequências que suas ações podem ter.
3. Motorista distraído
O terceiro e último perfil de motorista destacado tem dificuldade de manter a concentração enquanto está dirigindo.
Em razão disso, é comum que este motorista busque distrações como ouvir música e conversar demasiadamente com os passageiros.
Sem falar que o condutor distraído é aquele que tem maior propensão a utilizar o celular enquanto está ao volante.
Não preciso nem dizer que o risco de acidentes é muito maior quando não estamos atentos à direção.
Além de existirem mais perfis de motoristas, cabe lembrar que uma única pessoa pode se encaixar em mais de um deles, o que potencializa os riscos de cometimento de infrações e acidentes.
De modo a deixar mais visual, montei este infográfico com três dos perfis de motoristas mais negativos, ou seja, que tendem a tornar o trânsito um lugar menos seguro.
Conclusão
Neste artigo, busquei destacar a importância da Psicologia do Trânsito que, embora seja pouco discutida no nosso país, tem muito a contribuir para a segurança no trânsito.
Afinal, essa área é responsável por investigar um dos elementos mais importantes do tripé do trânsito: o humano e suas relações com o meio.
Como você viu, o fator humano é o principal motivador dos acidentes. E, para evitar eventos negativos nesse cenário, a atuação do profissional psicólogo do trânsito é fundamental.
Espero que a leitura deste artigo tenha ajudado a esclarecer suas dúvidas sobre o tema.
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